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27 de dezembro de 2010

Viagem para Alagoas

A primeira leva da equipe está indo para Alagoas amanhã, talvez a internet seja bem fraca no sertão e ficaremos um tempo sem escrever no blog. Quando possível e na volta iremos continuar escrevendo. Parte da equipe ainda vai demorar um pouco pra ir, talvez ainda escrevam algo antes da viagem. Não desistam de acompnhar as noticias do filme. A aventura está apenas começando, pois embora já tenhamos filmado 50% do filme, o que virá é cheio de poeira, estrada, ciganos, carroças, imprevistos, aprendizado e principalmente infância, sentimentos de amor e amizade sem interesse. Grande abraço e até logo. LATCHO DROM!

10 de dezembro de 2010

Catando Sementes de Ipê

Cinema.
Esse fazer técnico que é coletivo,
que exige logística e precisão ao mesmo tempo que busca espaço para o acaso.
É a exatidão do foco diante do imprevisto da borboleta que entra voando em cena 
e encanta o plano.
É o ator que tem que ir pro set apenas pra fechar uma janela, 
e ninguém poderá fazer isso por ele.
É grampear feltros em solas de sapato.
É o café quente da noturna chuvosa.
É gelo, de purpurina e ajinomoto.
É a sutileza e elegância do homem forte empurrando o carrinho sobre o trilho.
É luz. Recortada, rebatida, filtrada.
É a simbiose de um amontoado de pessoas catando sementes de ipê.
Esse fazer que é arte
e que emociona.

Fernanda Tanaka, Georgette Fadel, Ivi Vitoriano, Doni II,  Mônica Palazzo, Ebony, Laura Mansur e Hélio Villela; catando sementes de ipê.
 

5 de dezembro de 2010

À caminho dos ciganos- AO RELENTO PARTE 2

Qual o som do dourado no dente?
A mordida, debaixo do sol?
Um brilho. Ruído ainda não encontrado no escuro da ilha. Respira e escuta as vozes luzindo na estrada. Lonjura soprada em labirintos de cânion. São Francisco das águas passadas, frescor de banho presente. 
Que cheguem no vento os cantos sem nome, trazendo novos nomes ao filme!
Guile




S. José- mosqueteiros



4 de dezembro de 2010

plural

Adrian Cooper, fotógrafo do filme.
Guile, som direto
Gustavo, som direto
Hélio, contra as regras
Luciana Buarque, figurinista e Paula, continuista
Mônica e Julia, diretora de arte e diretora
Doni II, platô
Fernanda e Juli, equipe de figurino e adereço
Gui, assistente de platô com Pernambuco e outro senhor na feira
Ivi, assistente de direção
Adrian e Fernanda Tanaka, primeira assistente de câmera
Paula, continuista e Laura, primeira assistente de direção
Maíra, assistente de arte

Maíra, equipe de arte
Elcimar, chefe maquinista, Ricardo, ator e Dimas, chefe eletricista
Pepe, equipe de câmera
Ingrid, assistente de figurino  e Laura, atriz
Priscila, Ebony e Siva, maquiagem e efeitos




fotos dessa leva: Marko Stoimenov

30 de novembro de 2010

O mais novo pintor de arte

 Dante, o mais novo pintor de arte do cinema brasileiro. Ele ajudou a mamãe Patricia Cabral a fazer todo o trabalho em "Ao Relento". Casarão por fora, portal entre mundos, quarto, corredor e escada no estúdio, envelhecimento, texturas e muito carinho. Obrigada Pati, de barrigão e tudo, em nosso filme.  

ultra som do Dante


18 de novembro de 2010

3 cabeças


De beirada de rosto, Paula Mercedes, no meio Julia Zakia e à direita, Laura Mansur. Essas três no set parecem o Cérbero, o cão de 3 cabeças do labirinto do Minotauro. Não que engulam ou assustem os que ousam passar pelo labirinto, mas elas tem se movimentado como um só corpo durante esse tranalho.
Sócias, amigas e trabalhadoras braçais do cinema, é muito bonito vê-las em ação no set de "Ao Relento". Revisando alguma das cenas do dia 11 de novembro, no casarão da Condessa, vê-se seriedade e satisfação nas três meninas/mulheres. Continuem assim, unidas e fortes, faz bem olhar.

9 de novembro de 2010

07 de novembro de 2010

Primeiro dia de filmagem. Desde o quase amanhecer, ainda deitada, fui acompanhando o céu através da janela, acreditando na chegada do sol. Um lindo dia de sol. Depois de 10 semanas de preparação, finalmente a mão na massa. Apesar do frio na barriga de encontrar a organização do coletivo já no primeiro dia, um alivio imenso me tomou. É no set que me sinto à vontade. Tão à vontade quanto num banho de mar. O desafio de entender cada um, os espaços, os movimentos, realizar aquele plano de filmagem construído na minha imaginação silenciosa, armar o circo e liberar o espaço para uma equipe de quarenta pessoas dar vida àquele texto que estamos destrinchando há tantos anos.
Uma vez, Helena Coelho, grande alpinista, me disse que todo mundo deveria conhecer o Himalaia e subir uma montanha. Eu diria que todo mundo deveria conhecer um set de filmagem. E o mar.
laura mansur
1a assistente de direção

6 de novembro de 2010

"Um olhar brasileiro e poético sobre a Bósnia" por Esther Hamburger

Um olhar brasileiro e poético sobre a Bósnia

"Essa apresentação analisa o filme Pedra Bruta de Julia Zakia, um curta de 8 minutos, a partir do material filmado durante estudo para realização do longa “Ao Relento” em Mostar, Bósnia. A ideia é discutir como, sem recurso ao discurso politico, sem sangue, explosões, ou corpos machucados, sem o uso da palavra, com música e ruídos locais, e belas imagens filmadas pela diretora, que também é fotógrafa e montadora do filme, esse trabalho se contrapõem a Guerra. Pedra Bruta é parte de uma tendência emergente de documentários poéticos transnacionais que resultam da intersecção entre as artes visuais e o cinema e o audiovisual. Vinda do cinema e filmando na Bósnia, o trabalho de Júlia abre novas perspectivas para o cinema brasileiro.

O filme documenta o encontro entre a diretora, a atriz brasileira Georgette Fadel e a musicista Bósnia Amela Vucina. Zakia, Fadel e Vucina se encontraram por acaso em Mostar, cidade natal de Vucina, que foi bastante atingida pela Guerra. Zakia viveu na Bósnia por um ano, aprendeu a falar a lingual, trabalhou em programas de radio e documentários, além de redigir a primeira versão do longa de ficção, uma estória em tom de fábula sobre ciganos, que se passa no nordeste brasileiro e na Bósnia.

Durante esse ano, Julia recebeu a visita da amiga e atriz do filme, Geordette Fadel. Juntas, viajaram na Sérvia e na Bósnia, filmando. O encontro das duas com a pianista foi forte, estimulou a performance filmada e abriu parceria que continua na versão longa do trabalho, que terá música original da pianista Bósnia.

O filme não trás informação sobre esse processo de feitura. Ele não apresenta personagens. Não é narrativo. O trabalho começa com imagens em HD da performance ao piano e da perfance corporal em uma sala de música de escola infantil local. Vemos Vucina ao piano e acompanhamos os movimentos do corpo de Fadel. Enquanto a música continua, há um corte para imagens captadas em super-8, em outro momento e em outro espaço. Seguimos a perambulação de Fadel através de prédios abandonados e ruínas vazias. O filme não possui diálogos. As três mulheres artistas trabalham juntas na feitura do filme, o que por si só sugere a possibilidade de “viver junto” , para citar Barthes e o mote que inspirou a 27ma Bienal de São Paulo."

ESTHER HAMBURGER (publicado no site da SOCINE: Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual)

31 de outubro de 2010

SINOPSE

Ao Relento conta a história da cumplicidade entre duas meninas ciganas, Kaia e Reka, violentamente separadas na infância e criadas em mundos distantes. Durante uma viagem, os ciganos se vêem obrigados a atravessar a fazenda de um Conde, de onde são expulsos. Em meio ao tumulto da fuga, uma das meninas se perde do grupo e é raptada pelo fazendeiro. Ela é criada no casarão da fazenda como servente da Condessa que, obcecada em não envelhecer, tudo suga e destrói à sua volta. Reka cresce absorvida pelo trabalho e se agarra às poucas lembranças da vida cigana. Kaia, por sua vez, é criada pela própria família até deixar o acampamento e partir sozinha. Enquanto as vias que acabam levando Kaia de volta à fazenda do Conde lhe reservam surpresas e armadilhas, o dia-a-dia de Reka no casarão vai se tornando cada vez mais insuportável. Só o reencontro a que as duas ciganas estão destinadas poderá abrir novos caminhos para suas vidas.

24 de outubro de 2010

Correio Popular- A condessa e os ciganos

Publicada em 23/10/2010
Caderno C
A condessa e os ciganos
/ CINEMA / Diretora Julia Zakia fala sobre seu primeiro longa, Ao Relento, contemplado pelo edital do polo de cinema de Paulínia

Paula Ribeiro
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
paula.ribeiro@rac.com.br




Um filme concebido há mais de três anos sobre as dicotomias que permeiam a vida começará a ser rodado em Paulínia no mês que vem. Intitulada provisoriamente de Ao Relento, a saga mística que envolve os valores de vida de ciganos e fazendeiros pretende mostrar muito do que a diretora Julia Zakia aprendeu ao longo de sua vida e convivência com ciganos do Nordeste do País e da Sérvia, onde morou por um ano.
 

Diretora dos curtas O Chapéu do Meu Avô (sobre a fábrica campineira de chapéus Cury) e Tarabatara (sobre os ciganos de Alagoas), Julia faz seu début no mundo dos longas com a ajuda do edital do polo de cinema de Paulínia. A equipe do filme concedeu entrevista coletiva na última quinta-feira, no Theatro Municipal da cidade.


As locações acontecem nos estúdios do polo, em uma fazenda de Santo Antonio de Posse e no acampamento dos ciganos Ferraz em Alagoas. Os atores são integrantes dos grupos de pesquisa Lume e Barracão Teatro, além da talentosa Georgette Fadel, que vive duas protagonistas — a cigana e a condessa. Haverá, porém, muitos figurantes ciganos.  

“Desde criança a cultura cigana me intrigou e acho que todo mundo tem isso. Pode ser preconceito, admiração, mas tem muito de curiosidade por isso decidi incluir este povo no meu filme e tratar de questões que me tocam na vida”, explica a diretora.  

Apesar de ser a história de uma condessa que vive trancada em um quarto e tenta impedir a passagem do tempo, o filme é definido pela diretora como uma espécie de devaneio sem tempo definido, mas contraditoriamente realizado “o mais próximo do real possível”.

Com pouquíssimas falas, o longa terá muita técnica de expressão para os experientes atores, que estão envolvidos no projeto há três anos, e a trilha sonora será de Mateus Stelini, Lincoln Antônio e uma pianista bósnia. A direção de fotografia é de ninguém menos que o inglês Adrian Cooper, de Memórias Póstumas (2001) e O Menino da Porteira (2009). A direção de arte é de Mônica Palazzo.   

O roteiro já passou por diversos tratamentos, mas as cenas do filme já estão todas lá, na cabeça de Julia, há muitos anos. “Algumas imagens estão na minha cabeça antes mesmo de o roteiro ser escrito”, afirma.


O desafio, agora, é segurar a ansiedade até o dia 7 de novembro, quando a equipe se reúne em uma fazenda em Santo Antonio de Posse onde, na história, moram a condessa e o marido, um fazendeiro conhecido como conde. Por ali, passam alguns ciganos e a condessa se encanta com uma criança, de quem ela rouba a infância. “A história tem muito da sabedoria das mulheres, da força feminina e da simplicidade da vida”, define Georgette, que passou um mês com os ciganos em Alagoas para fazer laboratório de uma de suas personagens, a cigana.  

Amigas há muitos anos, o filme é, para ela e Julia, um resumo de sua amizade. Ao Relento não tem previsão de estreia e o objetivo principal, segundo o produtor executivo Patrick Leblanc, é concorrer em festivais — primeiro, internacionais e, depois, nacionais.

20 de outubro de 2010

O músico quer falar

O músico quer falar. O filme tem dois reinos, o dos ciganos e o do conde. O dos ciganos se aproxima da natureza, das emoções, dos sentimentos. O do conde da civilização, da racionalidade. Nestes dois reinos se desenvolve a trama. A trama adiciona à esses dois reinos o reino da fantasia. Esse não lugar que sintetiza emoções, sentimentos e pensamentos.

O filme caminha em direção ao reino da fantasia. É lá que se resolverão as coisas.  KAIA representa o sentimento, o sentimento de ligação à comunidade dos ciganos e à natureza. REKA é concebida como sempre criança, pura emoção. A Condessa expressa a preponderância dos desejos, do interesse, da mente.

KAIA irá em busca da prima. É uma busca orientada pelo sentimento, pela intuição, já que sai sabendo pouco ou nada sobre o paradeiro da prima. É aí que o sentimento entra no mundo da fantasia, fantasia que brota de uma incerteza, mas que é firme e certa em seu sentimento. Reka de criança vai à inconsciência. Mantém a pureza, as emoções da infância, seus sentimentos serão trabalhados no casarão, Reka é a personagem mais alheia ao que se passa nesse mundo fantástico. Daria para dizer que ela é esse mundo fantástico. A condessa eleva seus pensamentos à fantasia, desde que se guia pelos desejos, ela vive fantasias.

O desenvolvimento da trama se revela como uma briga entre a Condessa e Kaia. Cada uma quer Reka a seu modo. Mas o que resultará de Reka, que tem sua infância na natureza e seus modos adultos influenciados pela mentalidade louca da Condessa?

Eu não gosto disso, mas a Condessa expressa uma força, uma força que machuca, que fere os sentimentos. É a união de Reka e Kaia que poderá lutar contra isso, mostrando o valor dos sentimentos e das emoções, frente a afronta da secura da razão. A criança contra o adulto.
De todo o modo essas crianças crescerão e conhecerão o mundo adulto de uma ou outra maneira. Cada uma a seu modo, todas entrarão nesse mundo da fantasia que é o mundo eterno da infância perdida de Reka.

Mateus Fanteli Stelini

serviço e charme

Não é pra mostrar serviço, mas...

Segue nossa programação para amanhã:
9h - Saída de SP - Julia, Patrick, Siva, Georgette, Laura F.
10h30 - Maquiagem Olga (Siva, Laura F.)
11h - Coletiva - Julia , Patrick, Georgette
12h- Almoço
13h - Figurino Condessa (Siva, Julia, Georgette, Luciana)
15h - volta p/ SP da Georgette
15h30 - Maquiagem Conde (Ric, Siva, Julia)
15h30 - Figurino Olga (Lu, Laura F.)
16h30 - encontro com a banda da festa (Julia, Mateus, Mauro, Brisa, Ric)
18h- volta p SP (Julia, Laura F, Laura M, Siva e Patrick)

15 de outubro de 2010

andaimes, extrato de nogueira, coragem, equipe de primeira.

cor é um assunto delicioso, intenso e demorado.
por hora, um suspiro em forma de palavras: escolher cores é assim: algumas levam dias de reflexão e estudo, outras, simplesmente vêm...




o casarão na luz das 17h30, no sábado dia 16/10/2010



a fachada sem o extrato de nogueira, na semana do dia 11/10/2010



nossos super pintores in action

12 de outubro de 2010

De como me reconheci nesse filme

Já decorei alguns números de sequências. No começo achei estranho, isso não é de se esperar de mim. Mas as vezes cansa esperar, e comecei a entender como era bom saber dos números! Que até os números são parte daquilo sobre o qual me debrucei durante muito tempo, logo que entrei no filme: o roteiro - que contém uma história, mas que traz também tinta, e páginas, e letras miúdas, formatação. e números.

Depois de
 análisetécnicalinhadotempodecupagemdeambienteslistadeobjetoslistadecenografialistadepinturalistadeefeitosefogueiralistadeadereçosprops, o filme me habita. Corrijo, o roteiro me habita. Ou eu a ele, algo assim. Mas conhecer cada detalhe - ainda que alguns sejam mais claros, outros bem desfocados - possibilita reviver o roteiro sempre que é preciso, ou desejado -  quantos ao relento? muitos, imagino.
 
Já decorei alguns numeros de sequências, mas nem por isso esqueci que na minha primeira leitura, quando eles se abriam como cortinas, seguidos de cornetas que eram os títulos entre parênteses. A história se mostrava, e de alguma forma o fazer também: o carinho com a escrita e o cuidado com quem lê.
 
Em férias, esticada ao sol, numa paisagem em que era possível colocar nossos personagens, esticá-los também n'algum canto daquele cerrado imenso, colorido de ocre, barroco de palha e galho seco. Passei o dia com eles. No cerrado se lê com mais força, me pareceu. E criei um espelho pra entender a história.
 
E li uma condessa medieval, desse tempo em que uma terra prosperava quando um rei prosperava, em que as colheitas dependiam de sua saúde, em que esse rei tinha nas mãos o toque milagroso da cura.  O corpo do rei era o reino. A Condessa, por mais que renegue a terra em que pisa, o ar que respira, é ligada àquela propriedade por laços que transcendem a relação de uso de um espaço. Não é a toa que a casa tem uma luz própria, uma respiração gelada, uma vegetação discrepante de todo entorno árido...
 
A Condessa me parecia então, um amor tirano, apegado, possessivo, dramático, insatisfeito. Um amor que suga toda energia, que nos rouba os sentidos, que tortura, que sugere o auto-flagelo, a omissão. um amor cego.
 
E dos ciganos, do universo de Kaia, do universo original de Reka, me ficou muito forte essa poeira que fazia fumaça na estrada, o tempo todo, além das labaredas que voltavam sempre a aparecer.  São miudezas que vem da terra, do fogo, além dos ventos e orvalhos e rios, chuva. O que os ciganos retém da terra é apenas o transitório: a chuva que seca, o vento que acalma, a fagulha que sobe, a poeira que vôa. O Reino, aí, é o firmamento.
 
Esse amor era outro, então: confiante, esperançoso, paciente, arejado, perseverante. Um amor que nutre, que sabe esperar, que sabe ser na distância, na memória, fluido, transitório, que sugere a reconexão com o que temos de mais profundo, mais primário na nossa formação, um formato de amor de criança, de brincadeira.

 E então, os dois amores antagônicos, aquilo que enxergo em Kaia e Condessa quando me coloco nos olhos de Reka, moram num mesmo corpo, o amor por si só é duplo, tanto pela contradição que causa nos sentimentos, quanto por sua natureza emparelhada. Que o dificil é a síntese. Por que Reka viveu os dois amores. Mas ela só toma um caminho quando a estória faz a síntese. E com duas personagens habitando o mesmo corpo, só se pode fazê-las encontrarem-se fisicamente pelo olhar. Kaia e Condessa se fundem ali, de alguma forma. participam do amor de Reka. Fazendo os dois amores encararem-se, humanizam-se, tornam-se um só.
 
E eu já decorei os tais números, mas percebi que desde que comecei a fazer o filme - que profissionalmente, me pareciam um grande desafio: organização, concentração, informação - pude também experenciar um tipo de tarefa que sempre achei árdua, de uma forma bastante nova, criativa inclusive. Criar estratégias, criar lógicas de preparação e organização e reviver cada sequencia, personagem, objeto, detalhe. E fazer também uma síntese: da produtividade com a sonho, que descobri, andam mais próximos do que parecem...
re-aprendendo, re-definindo, re-desenhando. reconhecendo
 é tão bom.

Maíra Mesquita

4 de outubro de 2010

outras vidas nessa mesma

Era uma vez uma mulher que há muito tempo já morava longe de sua família. Não fosse por um sono profundo que lhe tombava os olhos assim que o sol se punha e uma energia imensa que a arrancava da cama antes mesmo do sol nascer, essa mulher nunca teria desconfiado de sua origem.
Acontece que um dia ela sentiu uma saudade tão grande de uma vida que já não lembrava ter sido sua que acordou muito antes do galo cantar e não dormiu mais. Seus olhos foram inchando, sua boca crescendo e caindo até que uma flechada atravessou seu coração e ela disparou a correr.
Descalça, sem medo de nada, atravessou sete montes e serras e avistou um rio largo e forte. "São Francisco! Abençoe minha busca, ajudai-me a reencontrar minha família".
Sua voz fez eco e a voz de muitas mulheres ecoaram sobre a sua, fugindo pelo vale que conduzia ao rio.
A mulher, desconfiada das noites não dormidas desceu até o rio e bebeu em concha, toda a água que pode.
O rio refletia sonhos de quando era menina. Sonhos de ouro em lugar de lama, sonhos de festa em lugar de silêncio. Embalada pelas vozes e pelas miragens, a mulher dormiu no leito do rio e boiou com a correnteza até chegar numa curva tão fechada, que acordou toda molhada, só com a cara seca, torrada de sol.
Ela levantou a cabeça e olhou em volta, foi até a margem e sorriu.
Toda a água que tinha bebido saiu pelos seus olhos. Na frente dela estava estampado e colorido um acampamento cigano. Forte, explosivo e real.
Tinha fogo, tinha fumaça, tinha criança, tinha cachaça. Tinha porco, bola, gude, velhos, bigodes, charadas, mel, olhos grandes e vivos, tão vivos que assustavam os quase sem vida.
Não era o caso da nossa mulher, ela tinha esses mesmos olhos e não se espantou com aquela quantia de vida. Era sua também, e estava em tempo de retomá-la.
Era rio, era água, era todo sempre asas.




2 de outubro de 2010

layout esboçado_ porteira do Conde, e a importância do desenho



e como o nome do post já diz, um layout esboçado, pré-projeto para a cerca do conde, usando a Laura como referência :-).
vamos abrir estrada, derrubar cerca, trocar estacas por mourões, contruir uma porteira incrível, e uma guarita estrategicamente próxima à porteira...

e o local antes da colagem digital:




não desenho exatamente bem. fiquei anos sem desenhar. em 1999 tive que usar da linguagem gráfica para montar o projeto de um trabalho de 3o ano da faculdade. de repente percebi que havia dentro de mim algo que tinha que ser lapidado.

hoje eu chamo meu desenho de "bilhete gráfico" = uma maneira de criar um lembrete visual, e organizar no papel algo que está na cabeça.. e, a partir disso, levar para programas gráficos de imagem ou 3D.



este post é também sobre o desenho: seja o desenho gráfico ou estratégico. pois a direção de arte é isso, o design do filme, sua visualidade, execução, e como coordenar uma equipe. direção de arte é um desenho feito a muitas mãos.

observação, repertório, experiência vivida, e muita, mas muita escuta. ouvir o outro, aprender com ele e assim, apreender o mundo, escolhendo caminhos dentro da infinidade de possibilidades.

28 de setembro de 2010

cinema cigano



Emocionante encontrar os ciganos depois de três anos e tantas mudanças na minha vida.
A velha maria, mulher de seu francisco, que nunca fala nada, um fiapo de gente, bichinho do mato que continua acocada com a panela na frente e as moscas na volta como na foto que dei para minha tia, olhou pra mim, logo se levantou e falou com um sorriso nos olhos "é a laura?". Primeiro, um passeio pelo rancho para cumprimentar todos, os comentários de como eu mudei e de como o acampamento mudou. E logo a intimidade de ficar sentada em silêncio, compartilhando os tempos da vida, volta. Tomar um café no rancho da Nega, ler a bula de remédio para cuidar de alguém, camihar com uma criança curiosa e carinhosa de uma barraca até a outra... É como o reencontro de familiares ou grandes amigos, onde o tempo e a distância não tem papel na estranheza, apenas na saudade.
O acampamento está com o triplo de gente e barracas, muitas com cama, fogão, todas com tv, algumas até com piso de cimento! As crianças que vi nascendo já caminham e até falam!
Coisa boa fazer cinema da vida.

Laura Mansur, assistente de direção do curta Tarabatara (2007) e deste Ao Relento.

notícias do sertão




julia, adrian e monica. direção, foto e arte.


Gui (produtor) faz as vezes de um iceberg no sertão.


Laura (assistente de direção) faz as vezes de um iceberg no sertão.




Uma semana de visita às locações no sertão alagoano. Gui já está vasculhando o sertão há quase um mês e nos preparou um cardápio de possibilidades espalhadas por todo o sertão. Era bonito de ver seu conhecimento de cada estradinha que corta os campos, quem era dono do que, o parentesco que tinha com não sei quem, o atalho para chegar não sei onde... Todos os dias, café da manhã reforçado, com cuscuz, macaxeira, ovo mexido e frutas. O dia era longo, debaixo de um sol de lascar, com muita estrada de terra e lugares para descer do carro e encontrar a cena. O trabalho entre produção, arte, fotografia, direção e assistência de direção é encantador. Aos poucos, entre fotos, releitura das cenas decupadas, e discussões de movimentação da ação, vamos criando um imaginário em comum do filme. Agora, com 21 locações encontradas, temos a mesma terra para arar.

Laura, assistente de direção

22 de setembro de 2010

Diário de OLGA (Laura Fajngold)


DIáRIO de OLGA
Antes da chegada dos Ciganos à fazenda.
"Esta escuro, é quase dia , 4:30 da manha, ninguém, o conde saiu a alguns dias e não voltou , a condessa não sai do quarto. Ouço passos que vem de longe, percebo que tem gente chegando, por enquanto sou só eu e as galinhas. som de pássaros dançando. Estou com medo, mas não posso dizer a ninguém, nem para a minha sombra...vou ter que ir la no quarto da condessa falar com ela, preciso ir agora, não adianta bater ela não responde. Já está entardecendo, me sinto muito sozinha, não tenho medo de ninguém, vou pegar meu cavalo e vou cavalgar um pouco e vou beber um pouco, vinho doce , acalma minha alma."

(Ida a Campinas\Amparo-sabado 28 de agosto de 2010)-estudos\ensaios\personagens\vivencias

Primeira noite- escolta das amas fora do casarão.
Fogueira noite-medo- engoli seco, Reka não tem medo de nada , parece uma criança que se joga no  mato.
Fogueirinha-papel, passos na mata. Espera... o sino não toca...
Segundo dia –Visita ao casarão(café da manha das atrizes Julia e Laura) escadas, cozinha.- se ambientando com o clima das locações do filme.
        -varrendo a grama, cozinhando.
         -se lavando no tanque, sujeira

20 de setembro de 2010

Rumo à Alagoas-amanhã !

Amanhã estamos indo para Alagoas, rever algumas locações e ver pela primeira vez certas estradas, vales e umbuzeiros novos, que o Gui César vem procurando desde que voltou para o sertão.
Nessa viagem vou eu (Julia, diretora), vai Adrian, o fotógrafo, Laura, assistente de direção e Mônica, diretora de arte.
Para Adrian a viagem é inédita, nunca esteve ali no acampamento dos ciganos Ferraz. Já Laura morou alguns meses ali quando fizemos juntas o documentário Tarabatara. Mônica foi em Junho na primeira viagem técnina da equipe e vai ver o que sua equipe de arte do sertão está fazendo. Como andam as carroças de dois eixos, os novos materiais encontrados, etc.
Em seguida chega Georgette que também nunca foi e que interpretará a cigana Kaia adulta. Será o primeiro encontro entre Kaia criança (Sielma) e Kaia adulta.
Quem fica aqui em São Paulo continuará trabalhando muito na preparação das filmagens de novembro em Paulínia enquanto nós estamos lá definindo e adiantando o trabalho das filmagens de Janeiro, no sertão.
Lá a internet é lenta e rara, mas quando encontrarmos, escreveremos contando.
Kaia criança (Sielma Ferraz)

Kaia adulta (Georgette Fadel)