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31 de outubro de 2010

SINOPSE

Ao Relento conta a história da cumplicidade entre duas meninas ciganas, Kaia e Reka, violentamente separadas na infância e criadas em mundos distantes. Durante uma viagem, os ciganos se vêem obrigados a atravessar a fazenda de um Conde, de onde são expulsos. Em meio ao tumulto da fuga, uma das meninas se perde do grupo e é raptada pelo fazendeiro. Ela é criada no casarão da fazenda como servente da Condessa que, obcecada em não envelhecer, tudo suga e destrói à sua volta. Reka cresce absorvida pelo trabalho e se agarra às poucas lembranças da vida cigana. Kaia, por sua vez, é criada pela própria família até deixar o acampamento e partir sozinha. Enquanto as vias que acabam levando Kaia de volta à fazenda do Conde lhe reservam surpresas e armadilhas, o dia-a-dia de Reka no casarão vai se tornando cada vez mais insuportável. Só o reencontro a que as duas ciganas estão destinadas poderá abrir novos caminhos para suas vidas.

24 de outubro de 2010

Correio Popular- A condessa e os ciganos

Publicada em 23/10/2010
Caderno C
A condessa e os ciganos
/ CINEMA / Diretora Julia Zakia fala sobre seu primeiro longa, Ao Relento, contemplado pelo edital do polo de cinema de Paulínia

Paula Ribeiro
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
paula.ribeiro@rac.com.br




Um filme concebido há mais de três anos sobre as dicotomias que permeiam a vida começará a ser rodado em Paulínia no mês que vem. Intitulada provisoriamente de Ao Relento, a saga mística que envolve os valores de vida de ciganos e fazendeiros pretende mostrar muito do que a diretora Julia Zakia aprendeu ao longo de sua vida e convivência com ciganos do Nordeste do País e da Sérvia, onde morou por um ano.
 

Diretora dos curtas O Chapéu do Meu Avô (sobre a fábrica campineira de chapéus Cury) e Tarabatara (sobre os ciganos de Alagoas), Julia faz seu début no mundo dos longas com a ajuda do edital do polo de cinema de Paulínia. A equipe do filme concedeu entrevista coletiva na última quinta-feira, no Theatro Municipal da cidade.


As locações acontecem nos estúdios do polo, em uma fazenda de Santo Antonio de Posse e no acampamento dos ciganos Ferraz em Alagoas. Os atores são integrantes dos grupos de pesquisa Lume e Barracão Teatro, além da talentosa Georgette Fadel, que vive duas protagonistas — a cigana e a condessa. Haverá, porém, muitos figurantes ciganos.  

“Desde criança a cultura cigana me intrigou e acho que todo mundo tem isso. Pode ser preconceito, admiração, mas tem muito de curiosidade por isso decidi incluir este povo no meu filme e tratar de questões que me tocam na vida”, explica a diretora.  

Apesar de ser a história de uma condessa que vive trancada em um quarto e tenta impedir a passagem do tempo, o filme é definido pela diretora como uma espécie de devaneio sem tempo definido, mas contraditoriamente realizado “o mais próximo do real possível”.

Com pouquíssimas falas, o longa terá muita técnica de expressão para os experientes atores, que estão envolvidos no projeto há três anos, e a trilha sonora será de Mateus Stelini, Lincoln Antônio e uma pianista bósnia. A direção de fotografia é de ninguém menos que o inglês Adrian Cooper, de Memórias Póstumas (2001) e O Menino da Porteira (2009). A direção de arte é de Mônica Palazzo.   

O roteiro já passou por diversos tratamentos, mas as cenas do filme já estão todas lá, na cabeça de Julia, há muitos anos. “Algumas imagens estão na minha cabeça antes mesmo de o roteiro ser escrito”, afirma.


O desafio, agora, é segurar a ansiedade até o dia 7 de novembro, quando a equipe se reúne em uma fazenda em Santo Antonio de Posse onde, na história, moram a condessa e o marido, um fazendeiro conhecido como conde. Por ali, passam alguns ciganos e a condessa se encanta com uma criança, de quem ela rouba a infância. “A história tem muito da sabedoria das mulheres, da força feminina e da simplicidade da vida”, define Georgette, que passou um mês com os ciganos em Alagoas para fazer laboratório de uma de suas personagens, a cigana.  

Amigas há muitos anos, o filme é, para ela e Julia, um resumo de sua amizade. Ao Relento não tem previsão de estreia e o objetivo principal, segundo o produtor executivo Patrick Leblanc, é concorrer em festivais — primeiro, internacionais e, depois, nacionais.

20 de outubro de 2010

O músico quer falar

O músico quer falar. O filme tem dois reinos, o dos ciganos e o do conde. O dos ciganos se aproxima da natureza, das emoções, dos sentimentos. O do conde da civilização, da racionalidade. Nestes dois reinos se desenvolve a trama. A trama adiciona à esses dois reinos o reino da fantasia. Esse não lugar que sintetiza emoções, sentimentos e pensamentos.

O filme caminha em direção ao reino da fantasia. É lá que se resolverão as coisas.  KAIA representa o sentimento, o sentimento de ligação à comunidade dos ciganos e à natureza. REKA é concebida como sempre criança, pura emoção. A Condessa expressa a preponderância dos desejos, do interesse, da mente.

KAIA irá em busca da prima. É uma busca orientada pelo sentimento, pela intuição, já que sai sabendo pouco ou nada sobre o paradeiro da prima. É aí que o sentimento entra no mundo da fantasia, fantasia que brota de uma incerteza, mas que é firme e certa em seu sentimento. Reka de criança vai à inconsciência. Mantém a pureza, as emoções da infância, seus sentimentos serão trabalhados no casarão, Reka é a personagem mais alheia ao que se passa nesse mundo fantástico. Daria para dizer que ela é esse mundo fantástico. A condessa eleva seus pensamentos à fantasia, desde que se guia pelos desejos, ela vive fantasias.

O desenvolvimento da trama se revela como uma briga entre a Condessa e Kaia. Cada uma quer Reka a seu modo. Mas o que resultará de Reka, que tem sua infância na natureza e seus modos adultos influenciados pela mentalidade louca da Condessa?

Eu não gosto disso, mas a Condessa expressa uma força, uma força que machuca, que fere os sentimentos. É a união de Reka e Kaia que poderá lutar contra isso, mostrando o valor dos sentimentos e das emoções, frente a afronta da secura da razão. A criança contra o adulto.
De todo o modo essas crianças crescerão e conhecerão o mundo adulto de uma ou outra maneira. Cada uma a seu modo, todas entrarão nesse mundo da fantasia que é o mundo eterno da infância perdida de Reka.

Mateus Fanteli Stelini

serviço e charme

Não é pra mostrar serviço, mas...

Segue nossa programação para amanhã:
9h - Saída de SP - Julia, Patrick, Siva, Georgette, Laura F.
10h30 - Maquiagem Olga (Siva, Laura F.)
11h - Coletiva - Julia , Patrick, Georgette
12h- Almoço
13h - Figurino Condessa (Siva, Julia, Georgette, Luciana)
15h - volta p/ SP da Georgette
15h30 - Maquiagem Conde (Ric, Siva, Julia)
15h30 - Figurino Olga (Lu, Laura F.)
16h30 - encontro com a banda da festa (Julia, Mateus, Mauro, Brisa, Ric)
18h- volta p SP (Julia, Laura F, Laura M, Siva e Patrick)

15 de outubro de 2010

andaimes, extrato de nogueira, coragem, equipe de primeira.

cor é um assunto delicioso, intenso e demorado.
por hora, um suspiro em forma de palavras: escolher cores é assim: algumas levam dias de reflexão e estudo, outras, simplesmente vêm...




o casarão na luz das 17h30, no sábado dia 16/10/2010



a fachada sem o extrato de nogueira, na semana do dia 11/10/2010



nossos super pintores in action

12 de outubro de 2010

De como me reconheci nesse filme

Já decorei alguns números de sequências. No começo achei estranho, isso não é de se esperar de mim. Mas as vezes cansa esperar, e comecei a entender como era bom saber dos números! Que até os números são parte daquilo sobre o qual me debrucei durante muito tempo, logo que entrei no filme: o roteiro - que contém uma história, mas que traz também tinta, e páginas, e letras miúdas, formatação. e números.

Depois de
 análisetécnicalinhadotempodecupagemdeambienteslistadeobjetoslistadecenografialistadepinturalistadeefeitosefogueiralistadeadereçosprops, o filme me habita. Corrijo, o roteiro me habita. Ou eu a ele, algo assim. Mas conhecer cada detalhe - ainda que alguns sejam mais claros, outros bem desfocados - possibilita reviver o roteiro sempre que é preciso, ou desejado -  quantos ao relento? muitos, imagino.
 
Já decorei alguns numeros de sequências, mas nem por isso esqueci que na minha primeira leitura, quando eles se abriam como cortinas, seguidos de cornetas que eram os títulos entre parênteses. A história se mostrava, e de alguma forma o fazer também: o carinho com a escrita e o cuidado com quem lê.
 
Em férias, esticada ao sol, numa paisagem em que era possível colocar nossos personagens, esticá-los também n'algum canto daquele cerrado imenso, colorido de ocre, barroco de palha e galho seco. Passei o dia com eles. No cerrado se lê com mais força, me pareceu. E criei um espelho pra entender a história.
 
E li uma condessa medieval, desse tempo em que uma terra prosperava quando um rei prosperava, em que as colheitas dependiam de sua saúde, em que esse rei tinha nas mãos o toque milagroso da cura.  O corpo do rei era o reino. A Condessa, por mais que renegue a terra em que pisa, o ar que respira, é ligada àquela propriedade por laços que transcendem a relação de uso de um espaço. Não é a toa que a casa tem uma luz própria, uma respiração gelada, uma vegetação discrepante de todo entorno árido...
 
A Condessa me parecia então, um amor tirano, apegado, possessivo, dramático, insatisfeito. Um amor que suga toda energia, que nos rouba os sentidos, que tortura, que sugere o auto-flagelo, a omissão. um amor cego.
 
E dos ciganos, do universo de Kaia, do universo original de Reka, me ficou muito forte essa poeira que fazia fumaça na estrada, o tempo todo, além das labaredas que voltavam sempre a aparecer.  São miudezas que vem da terra, do fogo, além dos ventos e orvalhos e rios, chuva. O que os ciganos retém da terra é apenas o transitório: a chuva que seca, o vento que acalma, a fagulha que sobe, a poeira que vôa. O Reino, aí, é o firmamento.
 
Esse amor era outro, então: confiante, esperançoso, paciente, arejado, perseverante. Um amor que nutre, que sabe esperar, que sabe ser na distância, na memória, fluido, transitório, que sugere a reconexão com o que temos de mais profundo, mais primário na nossa formação, um formato de amor de criança, de brincadeira.

 E então, os dois amores antagônicos, aquilo que enxergo em Kaia e Condessa quando me coloco nos olhos de Reka, moram num mesmo corpo, o amor por si só é duplo, tanto pela contradição que causa nos sentimentos, quanto por sua natureza emparelhada. Que o dificil é a síntese. Por que Reka viveu os dois amores. Mas ela só toma um caminho quando a estória faz a síntese. E com duas personagens habitando o mesmo corpo, só se pode fazê-las encontrarem-se fisicamente pelo olhar. Kaia e Condessa se fundem ali, de alguma forma. participam do amor de Reka. Fazendo os dois amores encararem-se, humanizam-se, tornam-se um só.
 
E eu já decorei os tais números, mas percebi que desde que comecei a fazer o filme - que profissionalmente, me pareciam um grande desafio: organização, concentração, informação - pude também experenciar um tipo de tarefa que sempre achei árdua, de uma forma bastante nova, criativa inclusive. Criar estratégias, criar lógicas de preparação e organização e reviver cada sequencia, personagem, objeto, detalhe. E fazer também uma síntese: da produtividade com a sonho, que descobri, andam mais próximos do que parecem...
re-aprendendo, re-definindo, re-desenhando. reconhecendo
 é tão bom.

Maíra Mesquita

4 de outubro de 2010

outras vidas nessa mesma

Era uma vez uma mulher que há muito tempo já morava longe de sua família. Não fosse por um sono profundo que lhe tombava os olhos assim que o sol se punha e uma energia imensa que a arrancava da cama antes mesmo do sol nascer, essa mulher nunca teria desconfiado de sua origem.
Acontece que um dia ela sentiu uma saudade tão grande de uma vida que já não lembrava ter sido sua que acordou muito antes do galo cantar e não dormiu mais. Seus olhos foram inchando, sua boca crescendo e caindo até que uma flechada atravessou seu coração e ela disparou a correr.
Descalça, sem medo de nada, atravessou sete montes e serras e avistou um rio largo e forte. "São Francisco! Abençoe minha busca, ajudai-me a reencontrar minha família".
Sua voz fez eco e a voz de muitas mulheres ecoaram sobre a sua, fugindo pelo vale que conduzia ao rio.
A mulher, desconfiada das noites não dormidas desceu até o rio e bebeu em concha, toda a água que pode.
O rio refletia sonhos de quando era menina. Sonhos de ouro em lugar de lama, sonhos de festa em lugar de silêncio. Embalada pelas vozes e pelas miragens, a mulher dormiu no leito do rio e boiou com a correnteza até chegar numa curva tão fechada, que acordou toda molhada, só com a cara seca, torrada de sol.
Ela levantou a cabeça e olhou em volta, foi até a margem e sorriu.
Toda a água que tinha bebido saiu pelos seus olhos. Na frente dela estava estampado e colorido um acampamento cigano. Forte, explosivo e real.
Tinha fogo, tinha fumaça, tinha criança, tinha cachaça. Tinha porco, bola, gude, velhos, bigodes, charadas, mel, olhos grandes e vivos, tão vivos que assustavam os quase sem vida.
Não era o caso da nossa mulher, ela tinha esses mesmos olhos e não se espantou com aquela quantia de vida. Era sua também, e estava em tempo de retomá-la.
Era rio, era água, era todo sempre asas.




2 de outubro de 2010

layout esboçado_ porteira do Conde, e a importância do desenho



e como o nome do post já diz, um layout esboçado, pré-projeto para a cerca do conde, usando a Laura como referência :-).
vamos abrir estrada, derrubar cerca, trocar estacas por mourões, contruir uma porteira incrível, e uma guarita estrategicamente próxima à porteira...

e o local antes da colagem digital:




não desenho exatamente bem. fiquei anos sem desenhar. em 1999 tive que usar da linguagem gráfica para montar o projeto de um trabalho de 3o ano da faculdade. de repente percebi que havia dentro de mim algo que tinha que ser lapidado.

hoje eu chamo meu desenho de "bilhete gráfico" = uma maneira de criar um lembrete visual, e organizar no papel algo que está na cabeça.. e, a partir disso, levar para programas gráficos de imagem ou 3D.



este post é também sobre o desenho: seja o desenho gráfico ou estratégico. pois a direção de arte é isso, o design do filme, sua visualidade, execução, e como coordenar uma equipe. direção de arte é um desenho feito a muitas mãos.

observação, repertório, experiência vivida, e muita, mas muita escuta. ouvir o outro, aprender com ele e assim, apreender o mundo, escolhendo caminhos dentro da infinidade de possibilidades.