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4 de julho de 2011

Impressões de uma atriz: Mariana Senne



Mariana Senne interpreta ZAGA, uma mãe cigana que perde sua filha, no filme. Pedimos que escrevesse um pouco sobre a experiência de fazer o filme, de estar ali no núcleo cigano no sertão de Alagoas nesse inicio de ano. Bom passeio pelas palavras da Mari:
"Passar o Réveillon com uma trupe de cinema e conviver com a matéria viva desse filme Ao Relento, o bando cigano, foi emocionante e único. Um bando artista dialogando com um bando cigano.
Foi a preparação necessária para o mergulho intenso em janeiro. Sou atriz de teatro e foi a primeira vez que trabalhei em um longa-metragem. Aprendi a entender esse outro jeito de expressar arte. “Cinema é corre e espera, corre e espera, corre e espera” me disse o Ebony (da equipe de maquiagem). E de fato, é uma experiência intensa: 12 horas de diária, 5 vezes por semana com uma folga, temperatura altíssima, calor, calor, calor. Lembro nos primeiros dias em Alagoas, ainda nesse período de preparação (réveillon), quando dava meio dia, a única saída era tomar uma coca-cola gelada goela a baixo, pra ter energia e coragem de almoçar. A quentura era tanta que a vontade era de deitar, dormir ou ficar chupando gelo. 
Quando as filmagens começaram, lidar com o calor era tarefa árdua. Aos poucos fomos nos acostumando já que o que movia muito toda a equipe era uma paixão e um desejo de realização dessa história maluca no meio do agreste. Uma equipe na sua maioria jovem, uma mulherada em maioria. Isso do bando de artistas. E no bando cigano, muitas mulheres também. Mulheres e crianças. Muitas crianças. Ir ao acampamento onde eles agora estão estabelecidos, conhecer a realidade em que vivem, foi importante pra não cair em deslumbramentos ou preconceitos. Foi um difícil encontro a princípio.
Com os ciganos reencontrai a pobreza, a miséria (sensações semelhantes á experiência do albergue: cheiros parecidos, criançada muito machucada (subnutrida), cigarro o tempo inteiro presente. Faço parte da Cia. São Jorge de Variedades de teatro e realizamos um projeto de temporada de um espetáculo chamado As Bastianas dentro de 2 albergues para pessoas em situação de rua em São Paulo. A condição de pobreza dos ciganos é muito semelhante ás condições encontradas nos albergues.
Com os ciganos portanto, reencontrei a miséria.
O que é possível ver além da miséria ? 
Essa pergunta me acompanhou durante toda a filmagem. Era ali que os bandos se misturavam. Ali no corre e espera que troquei muitas prosas com Nega, a cigana-guia-Hermes do nosso processo, que abria toda a comunicação entre os bandos. Ali brinquei com a criançada. Ali me pus a viver com esse povo cigano, que carrega a identidade em si. Na sua língua, no modo de se vestir, no modo de mover-se e de falar, no modo de existir. O que vi alem da miséria?
A existência. Ali a vida brota, os filhos brotam. Amamentar pra botar pra andar. Depois que começou a andar é do mundo. A vida acontece: ela vêm, põe prenha e vai pro mundo. Ir pro mundo. Existir no mundo. Esse um aprendizado, simplesmente existir.
Existência/ ciclo de vida e morte das coisas/ somos aqueles que ora são e ora não são."



2 comentários:

  1. Queremos mais, mais impressões, mais confissões, mais imagens e principalmente o filme!!!!!!!

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  2. oi julia, me chamo flávia. Escrevo pois ouvi falar de você no inicio desse ano quando conheci o bando cigano o qual esteve. Conheci-os pois estava com Rogerio há 3 meses rodando o interior da bahia conhecendo e fotografando os ciganos. Quando chegamos lá eles falaram muito de você e de guilerme. Logo depois soubemos do premio do concurso de fotografia de guilherme. Hoje aqui vagando descobri seu blog...lindo blog. Em uma semana será o lançamento do livro de fotografia em um festival em Florianopolis. Imagino que possa reconhecer alguem do livro :).
    E o seu filme? Ja pode ser visto?
    quem sabe nossas rotas se cruzam...um abraço
    f.

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