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6 de novembro de 2010

"Um olhar brasileiro e poético sobre a Bósnia" por Esther Hamburger

Um olhar brasileiro e poético sobre a Bósnia

"Essa apresentação analisa o filme Pedra Bruta de Julia Zakia, um curta de 8 minutos, a partir do material filmado durante estudo para realização do longa “Ao Relento” em Mostar, Bósnia. A ideia é discutir como, sem recurso ao discurso politico, sem sangue, explosões, ou corpos machucados, sem o uso da palavra, com música e ruídos locais, e belas imagens filmadas pela diretora, que também é fotógrafa e montadora do filme, esse trabalho se contrapõem a Guerra. Pedra Bruta é parte de uma tendência emergente de documentários poéticos transnacionais que resultam da intersecção entre as artes visuais e o cinema e o audiovisual. Vinda do cinema e filmando na Bósnia, o trabalho de Júlia abre novas perspectivas para o cinema brasileiro.

O filme documenta o encontro entre a diretora, a atriz brasileira Georgette Fadel e a musicista Bósnia Amela Vucina. Zakia, Fadel e Vucina se encontraram por acaso em Mostar, cidade natal de Vucina, que foi bastante atingida pela Guerra. Zakia viveu na Bósnia por um ano, aprendeu a falar a lingual, trabalhou em programas de radio e documentários, além de redigir a primeira versão do longa de ficção, uma estória em tom de fábula sobre ciganos, que se passa no nordeste brasileiro e na Bósnia.

Durante esse ano, Julia recebeu a visita da amiga e atriz do filme, Geordette Fadel. Juntas, viajaram na Sérvia e na Bósnia, filmando. O encontro das duas com a pianista foi forte, estimulou a performance filmada e abriu parceria que continua na versão longa do trabalho, que terá música original da pianista Bósnia.

O filme não trás informação sobre esse processo de feitura. Ele não apresenta personagens. Não é narrativo. O trabalho começa com imagens em HD da performance ao piano e da perfance corporal em uma sala de música de escola infantil local. Vemos Vucina ao piano e acompanhamos os movimentos do corpo de Fadel. Enquanto a música continua, há um corte para imagens captadas em super-8, em outro momento e em outro espaço. Seguimos a perambulação de Fadel através de prédios abandonados e ruínas vazias. O filme não possui diálogos. As três mulheres artistas trabalham juntas na feitura do filme, o que por si só sugere a possibilidade de “viver junto” , para citar Barthes e o mote que inspirou a 27ma Bienal de São Paulo."

ESTHER HAMBURGER (publicado no site da SOCINE: Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual)

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