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22 de fevereiro de 2011

Mulheres ciganas

Eu as vejo em suas grandes e pesadas passadas. Caminhando em uníssono.
Há uma imagem que não se desfaz. Na precisão, um círculo.  
A roupa, um casaco de homem, tweed pesado e cinza em cima do colorido vestido.
Frio do sertão, olhos já miúdos pelo sono da madrugada. Neste momento todas são crianças: o sono chama e o cigarro acende a brasa na noite.
As crianças amadas. Crianças bravas, muitas vezes com duro olhar em rosto tenro. Outros entes de tempos que não conheço.
É instinto e atenção. Amor também, fortalecido pelo coletivo de vida.
Uma só palavra, um cadenciar, a retirada.
Os braços não estão vazios.
Pequenas crianças os preenchem. Os círculos de luz ainda me mostram esse traço de beleza.
Quero reter a visão sabendo que alguns passos mais e a escuridão encobrirá a todas.
Olho, olho ainda uma vez percebendo os coloridos se misturarem às sombras.
Agradeço e durmo.

ZILDA ZAKIA
(escrito depois de ter visitado as filmagens de algumas cenas noturnas na região de Piranhas- AL)

olhares e vozes

Ciça Ferraz é REKA, na infância. Concentrada e séria, está sentada na "cadeira do diretor", por graça poucas vezes utilizada pela diretora, mas compartilhada por muitos assentos. Essa pequena cigana, atriz nata, colaborou com força e garra. 

Agüentou a repetição dos ensaios e planos, agüentou a lã que sua pele não suportava, bancou uma vida que não era sua. Doação mútua. Nessa família, Ciça é da primeira geração de ciganos que vai à escola. Está se alfabetizando e no set lia partes do roteiro com os outros atores, adultos, desenhava nas páginas, rabiscava também. Não existe no filme nenhuma cena, fala ou olhar dela, que ela mesma não tenha decidido como fazer e o tamanho a ser feito. Ela deu o que pôde e quis, entendendo cada cena e a progressão narrativa. Do seu jeito. 

Filha de Jussiara, sempre presente, em cada dia, a cada tarde e de Nod, guardião da filha.

Foto: Gu Ramalho
Didi Ferraz filmando, fazendo making-of para nós não esquecermos o teor, tipo e grau da batalha. A van azul turquesa é a van de som, que eles tinham sua própria van, que podia ficar até mais tarde enquanto eles caçavam sons pelas locações, se embrenhavam na caatinga, nos brejos, nas benfeitorias de cana, de...imaginação, pois bem.

foto: Gui Mohallem
 ...com ou sem ajudantes, como Darlan, com Guile, gravando sons. Frases em calon? Imitações de bichos? Palavrões lascados? Segredo de Estado? Só ouvindo pra saber. Aguardem a re-abertura da:
RÁDIO CIGANA PIRATA

É possível ver fotos mais antigas da família no blog:  
http://www.tarabatara.blogspot.com/ 

20 de fevereiro de 2011

só deu DARLAN

Darlan Esmeralda- 2011- foto: Acauã Sol
DARLAN ganhou um trompete, o trompete de Kaia agora é dele, sopra de peito aberto, com fôlego pra vida, tira som do instrumento, aprendeu a limpar, colocar óleo, cuidar das teclas. 
Filho de Meire, cigana do elenco principal do filme, presente em todas as cenas de coletivo cigano, de andanças, sombras e fugas.
Palma da mão esfolada, lobinho galego, um amigo que só tendo. Dedico-lhe a retomada de força para a continuação do filme e seu processo de realização. Etapas concluidas, agradeço e avante. 

16 de fevereiro de 2011

a avó cigana- BAKA

Esse olhar, esses dentes dourados, uma extrema e profunda capacidade de resistir ao calor, à espera, aos dias e noites ali no sertão. Uma verdadeira Baka, a avó cigana atriz que nos foi reservada pela força de Leuda Bandeira. Passado menos de uma semana do fim da etapa de filmagem de Alagoas, já sinto uma certa saudade e tenho noção real da importância dessa mulher para o filme e para meu aprendizado como diretora. É tarde agora, como ciganas, deveríamos estar dormindo, ao relento, com o sopro do vento fertilizando os sonhos, revezando palpitações para a vida. Amanhã com certeza haverá mais certezas sobre o que fizemos esse mês todo em Alagoas. Hoje, agradeço, respiro fundo para enfrentar as próximas fases que se seguem à captação das imagens e sons. Vamos misturar isso tudo num caldeirão bem lindo e bem louco. Vamos logo começar a montar?

Leuda Bandeira- BAKA- avó cigana